Pesquisador se descobre psicopata ao analisar o próprio cérebro

Mônica Vasconcelos
Da BBC Brasil em Londres

Neurocientista americano descobriu que tinha "cérebro de psicopata" ao estudar criminosos
Um neurocientista americano que fazia estudos com criminosos violentos descobriu, por acaso, que ele próprio tinha "cérebro de psicopata".

Casado e pai de três filhos, James Fallon, professor de psiquiatria e comportamento humano da University of California, Irvine (UCI), disse à BBC Brasil que a descoberta fez com que ele reavaliasse seus conceitos a respeito de quem era. E transformou suas convicções enquanto cientista.

A experiência de Fallon, descrita no livro The Psychopath Inside, teve grande repercussão na internet.
Comentando o caso, um neurologista ouvido pela BBC disse que estamos interpretando os conhecimentos gerados pela genética de maneira "perigosa".
"Os profissionais estão atribuindo importância excessiva para a carga genética de uma pessoa, como se isso, por si só, fosse capaz de determinar o futuro de um ser humano", disse Eduardo Mutarelli, professor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).



Para ele, a experiência de Fallon ajuda a reequilibrar o debate que contrapõe a influência da herança genética à do meio (nesse caso em particular, a influência civilizadora da família e da sociedade sobre o indivíduo).
Revelação Perturbadora
A descoberta de Fallon aconteceu em 2005, quando ele analisava tomografias de cérebros de assassinos em série na universidade. Ele queria ver se encontrava alguma relação entre os padrões anatômicos dos cérebros desses pacientes e seu comportamento.
Fallon explicou que, para ter uma base de comparação, tinha colocado na pilha tomografias de membros de sua própria família – a ideia era usá-los como modelos de cérebros "normais".
Ao chegar ao fim da pilha, onde estavam os exames de sua família, o cientista viu uma tomografia que mostrava um padrão claro de patologia. "O exame mostrava baixa atividade em certas áreas dos lobos frontal e temporal que estão associadas à empatia, moralidade e ao auto-controle".
Fallon contou que, no começo, pensou que fosse um engano. Mas feitas as checagens, o neurocientista, que estudava psicopatas há mais de duas décadas, viu-se às voltas com uma realidade um tanto quanto incômoda: o cérebro representado naquele exame era seu.
"As mesmas áreas do cérebro estavam completamente apagadas, como nos piores casos que eu tinha visto", disse Fallon.
Para se certificar, Fallon fez mais algunas investigações.
Exames do seu DNA confirmaram que ele tinha genes alelos associados à ausência de empatia e comportamento agressivo e violento.
Fallon também se submeteu a um teste usado por muitos pesquisadores e psicólogos para avaliar tendências antisociais e psicopáticas, a Robert Hare Checklist.
"Psicopatas alcançam acima de 30 pontos no teste de Robert Hare", disse Fallon. "A pontuação máxima é 40. Eu alcanço 18, 20 ou 22. Tenho vários traços em comum com psicopatas, só não sou criminoso. Nunca matei nem estuprei ninguém e prefiro vencer uma discussão com argumentos do que com força física", diz

Veja na íntegra: meguianaweb



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